Reflexões

REFLETINDO SOBRE EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao descer a rampa do Instituto onde curso Educação Física, vi um frenesi de alunos se dirigindo ao auditório. Estavam se deslocando para participar da lista de espera do ENEM, onde haviam vagas para os cursos de Nutrição e Educação Física. Ouvi bem quando uma das alunas foi questionada por suas colegas com a seguinte pergunta: O que você vai fazer no auditório? E ela respondeu: me inscrevi para Educação Física. Bastou esta resposta para que as colegas verbalizassem frases como estas: não acredito que você vai sair do nosso curso para fazer Educação Física! Você amanheceu bem, colega? Acho que a pessoa que cursa Educação Física deve estar no auge do desespero, no cúmulo da falta de opção.
Continuei descendo as rampas e me perguntando: Que concepção a maioria das pessoas tem da Educação Física? Porque nós estudantes  deste curso sofremos tanta discriminação? Porque olham pra nós como se fôssemos o resto, a rapa do taxo? A Educação Física é para mim, a realização de um sonho, um orgulho estampado no rosto e no peito como um troféu de conquistas que me realiza a cada dia. Vejo a cada momento como minha profissão é importante em todos os âmbitos sociais, desde o ensinamento numa escola, dando oportunidade para aquela criança que em meio a tantas tecnologias não aprendeu a brincar, para aquele menino que esqueceu que o movimento é algo implícito no homem, para aquela senhora que precisa de alguém que entenda da fisiologia, da anatomia, que explique através da cinesiologia como acontecem os movimentos e pra que servem cada um deles. São assim que nascem os exercícios personalizados que proporcionam a execução de movimentos simples do cotidiano de forma autônoma, prazerosa e eficaz para a saúde e bem estar. A Educação Física está presente na vida da criança que correr, que brinca, que aprende a coordenar seu corpo de forma orientada para que se torne um adulto capaz de interagir positivamente no mundo em que vive. Está na vida do idoso que precisa manter viva a chama da vitalidade, que necessita realizar seus movimentos básicos para ter qualidade de vida, está presente na vida de pobres e ricos, cultos e iletrados, famosos e anônimos.
Sou eu no meu curso de Educação Física que estou aprendendo a utilizar o movimento para formar cidadãos críticos e participativos, seres humanos mais dóceis, capazes de refletir sobre algo e provocar mudanças significativas na vida. Estou inserido não num mundo de esportes institucionalizados que amparados pela mídia dão asas ao consumismo exacerbado, à ilusão da fama fácil ou da glória instantânea, mas carrego comigo a consciência de um esporte incluso dentro da "Cultura Corporal", onde negros e brancos, ricos  e pobres, gordos e magros devem ter a mesma oportunidade de participar das aulas e explorar aquilo que tem de melhor. Eu defendo uma Educação Física que não contemple apenas os melhores, que não valorize apenas os que nasceram com habilidades esportivas em destaque, não sou adepta de uma Educação Física que exclui os menos habilidosos e despreza os mais fracos. Vejo na Educação Física um instrumento revolucionário no qual posso trazer aos meus alunos  desde a magia da arte circense, que perpassa pelos encantos da ritmicidade, da motricidade, da brincadeira, dos jogos populares, do esporte de aventura, da dança, da ginástica em suas mais diferentes formas até o movimento solto, descompromissado que envolve o ser humano desde os primórdios da vida.
Mexer, movimentar-se é algo natural do homem. Todas as coisas que tem vida, precisam do movimento. Como podem então seres humanos dotados de inteligência criticar a profissão que trabalha com o dom nato do homem? Como pode se dar tão pouca importância a um ramo de estudo que tem por finalidade compreender todas as nuances reais e imagináveis envolvidas no movimento humano?
A todos aqueles que não conseguem enxergar na Educação Física um ramo de estudo relevante ou uma profissão valorosa, digo apenas uma coisa: a única diferença entre nós e o restante da humanidade é que somos apaixonados pelo que fazemos, porque compreendemos a grandeza da nossa atuação num mundo que cada vez mais tende a ser estático. Digo-lhes que somos apenas mais felizes, porque aprendemos brincando, trabalhamos sorrindo e damos continuidade ao movimento constante de um mundo que nunca para de mexer!

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